quinta-feira, 8 de julho de 2010

Poema de Vinícius de Moraes

Este poema ofereço Aos verdadeiros AMIGOS, os que considero. Aos que me consideram assim. Aos que fingem que me consideram.

AMIGOS

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que
tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite
que o objeto dela
se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme,
que não admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se
morressem todos os meus amoressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o
quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com
assiduidade, não posso lhes dizer o
quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão ouvindo esta crônica
e não sabem que estão incluídos na
sagrada relação de meus amigos.

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me
são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital,
porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente,
construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer,
eu ficarei torto de um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabafo!

Por isso é que, sem que eles saibam,
eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é,
em s´ntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns dele.

Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima
por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida
não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo,
andando comigo, falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez
nunca vão saber que são meu amigo!